Zico, o eterno camisola 10 do Flamengo e do Brasil, foi o convidado especial de mais um Planeta Eleven, em direto, no Facebook da ELEVEN SPORTS. Durante cerca de uma hora, Zico, falou sobre a ligação da sua família com o futebol, sobre a sua relação com Portugal, a sua carreira, Jorge Jesus no Flamengo, Liverpool campeão, e o desejo de um dia poder vir a treinar o Sporting.
Arthur Antunes Coimbra, mais conhecido como Zico é o maior ídolo da história do Flamengo, marcou 508 golos em 731 jogos pelo Clube, conquistando os títulos mais importantes do rubro-negro. Tem ainda o recorde de golos marcados no Maracanã: 333.
Natural do Rio de Janeiro, o brasileiro de 67 anos chegou ao Flamengo aos 14 anos. Jogou pela seleção do Brasil nos Mundiais de 1978 e 1982 e atualmente é técnico dos Kashima Antlers, no Japão.
Sobre a Pandemia de COVID-19 e o impacto na sua vida, Zico referiu que “Para o clube no Japão é muito chato. Estamos aqui no Brasil e continuamos a receber sem trabalhar. Isso deixa-me um pouco triste e angustiado. Estou no Rio de Janeiro, vim para cá no final de Fevereiro, durante a pausa no campeonato japonês. Vim para fazer alguns exames de rotina e depois tudo começou a acontecer e não consegui voltar. Para mim está a ser um momento único, não me lembro de ter passado tanto tempo em casa com a minha esposa. De desfrutar do património que fui construindo ao longo da minha carreira. Este tempo foi importante para fortalecer a relação com a minha mulher. Estou bem em casa, confortável, não estou preso.”
Ainda sobre a pandemia e o impacto no Brasil, Zico concluiu que “Olho para toda esta situação com muita tristeza. O Brasil podia ter respondido de melhor forma pois já estava a acontecer na Europa e no EUA. O Brasil poderia ter dado mais valor a esses sinais. Muita pressão, muita política acima da saúde. Não houve uma união do País na luta contra a pandemia.”
Relativamente às suas origens, e à relação com Portugal, o antigo internacional brasileiro referiu que “A Família toda do meu pai é de Tondela, por isso há uma ligação maior com Portugal. O pai da minha mãe também era português. Por isso tenho nacionalidade portuguesa, eu a minha mulher e os meus filhos. Tenho muito orgulho disso. Já conheço Portugal de Tondela até Portimão. O meu filho Tiago já jogou no Portimonense. Quando estive a comandar a Seleção do Iraque eu quase fui morar em Portugal. Mas sempre que posso viajo para Portugal para comer peixe, beber vinho verde e comer os meus doces.”
Recordando o seu pai, José Antunes Coimbra, Zico confidencia que: “O meu pai não queria os filhos fossem jogadores de futebol. Ele era apaixonado pelo futebol, mas queria ver os filhos formados. Quando ele era jovem, campeão no futebol amador, recebeu um convite para ir para o Flamengo, o clube do seu coração. Ele queria ir para o Flamengo, mas na altura trabalhava numa padaria e o dono era do Vasco. O patrão quando soube do convite disse: se fores para o Flamengo ficas sem emprego. Naquela altura o futebol não era muito seguro, por isso ele optou por ficar com o emprego da padaria. Quando Deus chamou o meu pai todos os filhos estavam formados e isso foi o maior orgulho dele.”
“Todos os filhos do senhor Antunes são craques de bola devido ao seu ADN. Eu e o Edu estamos entre os 50 melhores jogadores do Brasil, com os pés no Maracanã. Eu ídolo absoluto do Flamengo e o Edu do América. O Antunes chegou a jogar no Fluminense, mas parou muito cedo. O Nando passou por Portugal, mas desistiu depois de uma lesão grave.”
Sobre a origem do nome pelo qual é conhecido, e da sua alcunha, Zico referiu que “Aqui no Brasil gostamos muito de dar alcunhas. Eu era o Arturzico, Turzico. Mas, como já havia um Tonico na família em fiquei apenas Zico, ideia de uma prima minha, afilhada do meu pai. Muitos não entendem porquê, porque o ideal seria Arturzico ou Ziquinho. Para mim até foi bom porque é um nome fácil para dar autógrafos, sendo que hoje em dia é ainda mais fácil pois os fãs só querem selfies. “
“A alcunha de Galinho do Quintino surge porque fui o único filho dos meus pais que nasceu na casa onde crescemos, no Quintinho, Rio de Janeiro”
Quanto a nunca ter jogado em nenhum dos principais clubes da Europa, Zico revelou o seu sonho e partilhou que: “Não tenho pena de não ter representado nenhum grande clube na europa. Apenas fica a mágoa de nunca ter dito a oportunidade de representar o clube do coração do meu pai, o Sporting. Queria ter dado essa alegria ao senhor Antunes. Nunca me encantou essa coisa de Real Madrid, Barcelona ou equipas de Inglaterra. O que eu gostaria era de um dia representar o Sporting, como jogador já não vou a tempo, mas como treinador gostava. E já estive quase a conseguir, quando estava na lista de Pedro Baltazar nas eleições de 2011.”
Sendo um dos maiores ídolos da história do Flamengo, Zico falou sobre o atual técnico do rubro-negro: “Jorge Jesus merece todo o sucesso que tem no Flamengo, merece todo o carinho dos adeptos do Flamengo. É um apaixonado do futebol, entendeu o que representa o Flamengo e mostrou aos jogadores o que era preciso fazer para representar bem o Flamengo. Essa foi a grande vitória do treinador português, entender o clube e a camisola que está a vestir. Para além disso, Jorge Jesus teve nas mãos uma grande equipa com a direção a dar um forte suporte, com infraestruturas fantásticas. E quando é assim os resultados aparecem.”
Fazendo uma breve “viagem” pela sua carreira, Zico partilhou que: “Lembro-me da primeira vez que vesti a camisola 10 do Flamengo, o número de um grande ídolo do Flamengo da década de 50, Dida. Foi um sonho de criança realizado muito cedo. Em bebé, antes de dizer pai ou mãe eu já dizia Dida. Na altura só queria jogar futebol, era uma brincadeira.”
“Depois ainda levei algum tempo a crescer e a ganhar maturidade até ser profissional. Quando essa fase chegou só queria ser titular na equipa principal do flamengo, consegui isso no final de 1973.”
“Quando estamos numa equipa grande temos que pensar sempre de forma positiva, em grande. Eu sempre fui uma pessoa otimista, que corria atrás das conquistas. Sempre procurei trabalhar muito para chegar a perfeição e conquistar todos os títulos que tenho na minha carreira.”
“O título mais significativo na minha carreira foi a Libertadores, por tudo o que significou. O futebol brasileiro era desvalorizado aqui na América do Sul. Mas nós vencemos numa das competições mais difíceis do mundo. No fim de tudo foi uma vitória do futebol contra a violência. Fizemos prevalecer a nossa qualidade, a nossa técnica à frente da violência.”
“Tive a oportunidade de jogar com os melhores jogadores do mundo, Pelé, Beckenbauer e o Maradona. Depois ainda incluiu o Garrincha e o Cruyff que ainda vi jogar no início da minha carreira. Mas tive muito prazer a jogar com a equipa do Flamengo de 1981 ou da Seleção brasileira de 1982. Tive oportunidade de jogar com os melhores jogadores do mundo, jogadores que marcaram a história.”
Sobre quais os jogadores com que gostava de ter jogado, Zico referiu que: “Gostava de ter jogado com dois portugueses: Figo e Cristiano Ronaldo. Mas joguei com o Paulo Futre, que foi um dos grandes do futebol português.”
“Também gostava de ter jogado com Messi, Iniesta ou Xavi. São jogadores que eu admiro bastante.”
Recordando a Seleção do Brasil, Zico referiu que: “A minha passagem pela Seleção do Brasil foi muito boa. Em termos individuais com bons números, mas em termos de títulos não. Disputei poucas competições, apenas 3 campeonatos do mundo, na altura não havia Copa das Confederações, Copa América era diferente. Ganhei algumas Taças, mas faltaram os grandes títulos. Estranho porque em termos de jogos oficiais com a camisola do Brasil eu só perdi um jogo, no Mundial contra a Itália. Servi a Seleção do Brasil durante 10 anos, tenho muito orgulho nisso é claro que gostaria de ter vencido um Mundial. Mas durmo em paz com essa decisão de Deus”.
Tendo sido frequentemente comparado a Pelé, Zico confessou que: “Ouvir a designação de Pelé Branco foi muito complicado. Foi uma revista francesa que me deu esse apelido e com ele veio a responsabilidade. As pessoas pensavam que iam ver Pelé a jogar e a verdade é que eramos jogadores com características completamente diferentes. Muitos jogadores sofrem com essas comparações, o peso de seres comparado com grandes jogadores históricos é difícil. Igualar o Pelé é muito difícil, ele é único. Não acredito que apareça outro jogador com os atributos de Pelé. Deus quando criou o termo jogador de futebol, deu todos os melhores atributos a Pelé. Foi um orgulho ser tratado como Pelé branco, mas sai fora, Pelé é único. Nunca deixei que isso influenciasse a minha carreira.”
Falando sobre Neymar, o antigo internacional brasileiro referiu que:“Nós os brasileiros desejamos que o Neymar atinga o nível de Cristiano Ronaldo e Messi. Mas, acho que o Neymar, infelizmente, acabou por ter mais problemas fora do campo do que dentro das quatro linhas. Um jogador tem de ser visto pelo que faz dentro de campo e não fora dele. Neymar tem um pensamento diferente de Messi e Cristiano que olham para o futebol como a principal função deles.”
Na hora de dar notas aos jogadores, Zico referiu: “Craques do Brasil que jogaram comigo e que dou nota 10…. Pelé, Garrincha, Rivellino, Gerson e Tostão. Da atualidade, Cristiano Ronaldo, Messi, Neymar, Iniesta e Salah.”
Sobre o Liverpool que conquistou o primeiro título na Premier League em 30 anos, Zico não hesitou em referir que: “O Liverpool é um exemplo, pela boa forma de jogar com elegância, disciplina e modernidade. O Klopp deu outra vida ao Liverpool. O clube merece voltar a ser campeão inglês, depois do título da Liga dos Campeões na época passada. Hoje o Liverpool é das melhores equipas a nível mundial. O futebol inglês hoje em dia está na liderança. Gosto muito de ver equipas de Guardiola, Klopp e José Mourinho.”
A entrevista completa pode ser vista aqui.
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